Cada passo me conduzindo a recepção daquele escritório no qual minha esposa era secretária, fazia com que uma dor imensa crescesse dentro do meu peito. Minha esposa era secretária de uma clínica, mas precisamente de uma médica, ela ficava em uma sala ampla cuidando da recepção dos clientes VIPs que tinham todo o tipo de caprichos. Pedi educadamente sem deixar transparecer meu desespero para falar com minha esposa. Alguns minutos depois ela veio em minha direção no hall de entrada, surpresa com a minha presença e com seu lindo sorriso característico. Chegou a hora…
-- Meu amor o que faz aqui? Saiu do trabalho mais cedo? - Sua voz me enfraqueceu-
-- Meu amor preciso falar com você e gostaria que você viesse comigo, poderia falar com sua chefe que irá sair mais cedo?- Disse com a voz embargada de emoção-
-- Está bem Paulo, mais me fala logo que estou curiosa! O que você está aprontando? Outra surpresa romântica?
-- Daria tudo para que fosse assim…- foi a única coisa que consegui falar-
Alguns minutos depois ela saiu e me encontrou na companhia de Sr. Amorim e Jorge perto do estacionamento. Caminhei em sua direção e pegando em sua mão nos afastei para dar a notícia que mudaria tudo!
-- Amor não sei como dizer isso(lágrimas rolaram pelo meu rosto), aconteceu algo terrível…- Minha voz sumiu-
-- O que houve Paulo? Está me assustando!
Respirei profundamente como nunca e secando as lágrimas eu a abracei forte como nunca fiz antes e lhe falei suavemente:
-- Maria nosso filho se foi, tiraram ele de nós...sinto muito amor, nosso bebê se foi…- As lágrimas recomeçaram, comecei a tremer e tomei coragem de olhar minha esposa nos olhos.-
-- Paulo, sequestraram nosso filho? Deus do céu! Onde foi isso? Vamos a escola, a policia… - Maria tremia, chorava, e falava rapidamente-
Segurei firme seus braços, olhando no fundo dos seus olhos e senti uma pontada forte em meu peito, arfei por um momento, mas proferi as palavras mais cruéis que se pode dizer a uma mãe:
-- Maria, nosso filho está morto! Nosso filho se foi…
Ela ficou alguns segundos parada, em silêncio, tentando processar aquelas informações, como que pensando: “ O que esse louco está dizendo?”
A puxei pela mão para abraça-la, mas ela se desvencilhou e gritou:
-- O que está dizendo? Meu filho está bem, ele está na escola onde o deixei, vou buscá-lo agora e você vai ver que ele está vivo!- Ela estava histérica e me olhava implorando para que eu concordasse com ela, que desmentisse o que eu acabara de dizer-
Maria chorava tanto e gritava, ela olhava para mim e sacudindo a cabeça em negativa, mas compreendia que eu era o tipo de homem que jamais brincaria com algo desse tipo. Ela sabia que era verdade e seu coração estava se despedaçando e eu… morri pela quinta vez.
Meus anjos da guarda, por assim dizer, me ajudaram a levar minha esposa para a clínica, onde a médica veio em socorro, tentando acalma-la enquanto era posta a par da terrível situação.
Minha esposa foi sedada e a médica ficou ao lado dela enquanto eu voltava ao local do crime para tomar as medidas legais. Liguei para a minha mãe e pedi que viesse ao meu socorro. Em pouco tempo minha mãe, meu pai, minha irmã e minha sobrinha estavam comigo na escola. Na presença deles eu desabei e fiquei novamente aos prantos quase beirando a histeria. Meu filho estava sendo levado para o IML e seguimos juntos para aquele tormento que seria minha noite!
Meu pai a meu pedido seguiu para a clínica para buscar minha esposa, enquanto eu cuidava do funeral e esperava pela liberação do corpo.
Depois de uma hora minha esposa chegou amparada pelo meu pai, minha sogra estava junto com ela chorando muito, fui em sua direção e nos abraçamos longamente.
Minha esposa insistiu em ver o nosso filho, expliquei com pesar as circunstâncias em que ele foi morto, que seria uma cena muito forte para ela, mas não adiantou, ela era mãe e nada nesse mundo a impediria.
Entrei com ela no necrotério, uma sala extremamente gelada que me deixou todo arrepiado, ela era ampla e tinha várias mesas com cadáveres cobertos por plásticos, o legista nos apontou a direção do corpo de Adam, enquanto seguia adiante nos olhou como perguntando se estávamos prontos para ver o corpo. Assenti com a cabeça. Ele retirou o plástico, minha mulher ao ver nosso filho gritou, se debateu, morri pela sexta vez naquela dia. Eu a abracei, o legista saiu para nos deixar a sós naquele momento de dor.
Minha esposa acarinhava a cabeça de Adam e o beijava, nem vi quando minha família e a mãe dela entrou, todos em lamentação em torno daquele pequeno “anjo” tirado de nós abruptamente.
Aquele dia ninguém dormiu, o funeral foi perto da minha antiga casa, os amigos chegavam, os conhecidos, todos com expressão sombria, de pesar! Pessoas que um dia comemoraram conosco o aniversário de Adam, hoje lamentavam sobre o pequeno caixão branco.
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Concedei-nos Senhor, Serenidade necessária, para aceitar as coisas que não podemos modificar, Coragem para modificar aquelas que podemos e Sabedoria para distinguirmos umas das outras.
Reihold Niebuhr
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